quinta-feira, 15 de abril de 2010

Bandeiras espanholas em Valença

capa jornal Público

As bandeiras espanholas em Valença do Minho foram objecto de debate na sala de aula de 2º de Nível Avançado. Eis a controvérsia, com artigos de Inês Maria e Roberto Alonso.



Acho bem a ideia de as bandeiras espanholas ondearem nas varandas em Valença do Minho. A notícia é curiosa, e julgo o facto inteligente e bem pensado por duas razões: a primeira, que uma medida de protesto persegue um claro objectivo, ter a máxima repercussão nos meios de comunicação para assim conseguirem o que estão a procurar; e a segunda, que como gesto de agradecimento ao Presidente da Câmara de Tui, sem dúvida vai garantir a atenção ao utente (aos doentes) no Centro de Saúde. Afinal, é um protesto pacífico, porém enérgico para as autoridades sanitárias portuguesas não pouparem à custa da saúde dos cidadãos. Há quem pense que a utilização das bandeiras não é adequada, mas o fim justifica os meios. E não fizeram dano nenhum... somente pressão. (Inês Maria)

Impressionou-me a ideia da colocação de bandeiras espanholas na vila de Valença do Minho, como sinal de protesto dos seus habitantes perante o problema do Centro de Saúde deste município minhoto.Caso eles não fizessem isto, mais ninguém saberia dos seus problemas?Na minha opinião, o facto de quer chamar a atenção de forma rápida, e de ser ouvidos pelos meios de comunicação do mundo inteiro, não justifica o uso dos símbolos e das bandeiras à toa. Discordo do uso dos símbolos alheios a nós mesmos, com a simples procura de um interesse pontual, quando em essência puderem ser inclusivamente contrários historicamente aos nossos próprios símbolos e pensamentos.Não é, aliás, na actualidade, o uso das bandeiras, para mostrarmos melhores do que os outros, motivo de grandes conflitos? Para mim, os símbolos não deveriam ter mais significado do que um simples carácter informativo ou distintivo. (Roberto)

3 comentários:

Carlos Luna disse...

VALENÇA DO MINHO E AS ELITES PORTUGUESAS (não esquecendo Elvas)(1)
As elites portuguesas têm um problema. Não confiam no povo de que são
filhas. Lamentam
o "baixo nível" do seu próprio povo. Nem sequer entendem que, agindo
assim, e sendo elas
por definição os "melhores" de entre o seu povo, e aqueles que, até
certo ponto, devem
dar o exemplo, estão a passar um atestado de incompetência a elas próprias.
No fundo, as elites têm horror a misturar-se com o povo de que são
filhas. E lamentam
não viver noutro País, onde as populações não sejam tão rudes.
Ao longo da História, as elites portuguesas têm metido os seus conterrâneos em
aventuras de vários tipos... incluindo tentativas de se subordinarem
ou unirem a outros
Estados que não o Português. Estados onde, curiosamente, vivem
populações bem menos
acomodatícias que a portuguesa à tradicional prepotência dos "grandes"
da Lusitânia.
Curiosamente também, o povo português tem reagido, e destroçado as
mesmas elites.
Todavia, parece haver aqui um ciclo infinito. As novas elites que,
após as muitas
revoluções que Portugal conheceu, substituem as antigas, acabam por as
imitar na forma
como se vêem e vêem o seu povo. Em pouco tempo, os vícios ressurgem.
Não me refiro apenas a nobres ou a burgueses. As elites intelectuais
têm seguido o
mesmo percurso. Volta e meia, temos os mesmos discursos descrentes e
pessimistas. Foi
assim no final do Século XIX, e de novo no início do século XX. A
ditadura salazarista
incompatibilizou estas elites com muitos aspectos da vida portuguesa.
O mais curioso é que esta tendência se renova nos finais do século XX
e começos do
XXI. E é ver escritores (começando pelo genial Nobel Saramago,
convencido de que a sua
atitude é original...), de vários quadrantes, a lamentar não terem
nascido num País maior
e que lhes reconheça a sua "infinita grandeza" ( que marcha a par,
demasiadas vezes com
uma infinita presunção ), mas também economistas, grandes empresários,
políticos, e,
pior, governantes, a pronunciarem-se da mesma forma. Discretamente,
neste último caso,
claro. Mas com muita eficácia.
Durante séculos, o povo rude ficava longe destes procedimemtos.
Todavia, e felizmente,
a instrução popular tem progredido. As elites são agora mais imitadas,
mais ouvidas, ou
desprezadas com maiores conhecimentos. Instintivamente, o povo revê-se até na
mediocridade das mesmas elites. Para sua desgraça.
Assim se chega a situações com a de Valença do Minho, com bandeiras
espanholas içadas
pelas populações. As elites aplaudirão ( "nós não dizíamos? Este povo
não tem capacidade
para sobreviver de forma independente; Portugal vai acabar..."), ou
abanarão a cabeça com
desgosto, e dirão: "Triste povo o nosso; nem patriotas são; isto só lá
vai, mesmo, com
uma ditadura".
(CONTINUA)

Carlos Luna disse...

VALENÇA DO MINHO E AS ELITES PORTUGUESAS (não esquecendo Elvas)(2-CONCLUSÃO)
Afinal, os habitantes de Valença do Minho nem se apercebem que, com o
seu protesto,
estão a ajudar e a dar razão a quem lhes quer tirar direitos. Num País
onde as elites
mantêm uma das mais altas taxas de desigualdade social da Europa, e
consideram isso
natural, o povo, a eterna vítima, em vez de exigir uma melhor
repartição de riqueza, em
vez de lhes exigir que abdiquem do muito que têm para que os serviços
básicos (saúde,
educação) não sejam afectados, mas antes melhorados, os "populares"
entregam a resolução
do problema ao vizinho espanhol. Que alívio para essas mesmas
elites... em que se
incluem os políticos governamentais e muitos dos que os apoiam.
Não me posso esquecer do encerramento da Maternidade de Elvas a favor
de nascimentos
em Badajoz. Um precedente perigoso. Quantas pessoas terão consciência
DE que, daqui a
trinta e poucos anos, nenhum elvense se poderá candidatar a Presidente
da República por
não ter nascido em Portugal, conforme determina a Constituição? Onde
está a garantia, por
parte do Estado, do direito de cidadania para toda a população? Quanto
sentido de
irresponsabilidade...
Estas não são soluções. A sujeição a estranhos nunca foi solução. Como
os portugueses
compreenderam em 1383/85, ou 1640, ou em 1808. E fizeram as elites
pagar pelos seus
erros, pela sua cobardia, pela sua falta de patriotismo.
Talvez seja altura de o Povo se assumir como elite de si próprio. Ou
de vigiar mais
atentamente, e de forma muito, mas muito mais exigente, quem dirige a
sociedade.
Eu preferia a primeira opção. Mas a segunda já pode ser um progresso.
Valença do Minho e as bandeiras espanholas podem ser uma lição. Já
chega uma Olivença,
na qual se esmagou uma cultura, uma língua, uma história, e se deteve
o progresso durante
um século. Situação que as elites actuais, económicas, políticas, e
culturais (ou
intelectuais) evitam abordar. Ou de que troçam, muitas vezes por
ignorância, outras vezes
por comodismo.
A República faz cem anos. Como republicano, aplaudo. Como cidadão,
acuso quem nos
governa de estar a matar essa mesma República, e com ela Portugal!!!
Estremoz, 09 de Abril de 2010
Carlos Eduardo da Cruz Luna
10 de Abril de 2010 13:02(FIM)

Departamento de Português disse...

Caro, Carlos,
Primeiro: peço descupas por não ter respondido com maior rapidez.
Segundo: Muito, muito obrigado por comentar neste blogue.
Terceiro: Não concordo com muitas das suas opiniões e vou comentá-las:
a) Onde que está esse país maravilhoso onde as elites e o povo vão juntinhos, de mãos dadas? Não concordo com a diferença entre povo (bonzinho, como o Capuzinho Vermelho) e elites (maus, maus, como o lobo). Não acredito em maniqueísmos, nem idades douradas, nem passagos gloriosos e futuros escuros, escuros.
b) O que acontece em Valença, segundo a minha opinião, não é a tradicional luta de dois estados por um espaço qualquer (rio, montanha, cidade, etc.). Espanha não que conquistar Valença (nem, diga-se já, Portugal inteiro) e as pessoas de Valença não querem pertencer a Espanha; simplesmente entramos num novo espaço (geográfico, social, político, cultural) que é Europa. Eu quero o que for bom, tanto faz se é português, espanhol ou norueguês. Queremos mais Europa? Então, devemos fazer Europa e apagar, a pouco e pouco, as fronteiras nacionais. Dou um exemplo, muitos extremenhos usam o aeroporto de Lisboa e não Madrid. São traidores, são maus patriotas, são espiões duma potência vizinha como Portugal? Obviamente, não.
c) Engana-se com o assunto da maternidade de Elvas. Todas as pessoas que nascem em Badajoz têm direito a escolher nacionalidade (portuguesa ou espanhola, dinamarquesa é que não podem). Assim, um Nuno ou uma Amália que estejam a nascer hoje (25 de Abril) em Badajoz poderão ser, sem quaisquer problemas legais, portugueses e em 2035 serem Presidentes da República Portuguesa (quase com certeza, os primeiros elvense ou campomaiorense a serem PR).
d) Oxalá Espanha também fosse uma República, como Portugal.

Chema Durán