segunda-feira, 27 de abril de 2009

Amália hoje

Sinto-me clássica esta semana. Mas na música esse classicismo vem com uma roupagem totalmente nova. Saiu hoje para o mercado (depois de algumas semanas com o primeiro single a rodar nas rádios) o disco do projecto Hoje. Tenho que confessar que ao ter como participantes dois membros de uma das minhas bandas portuguesas de eleição fiquei alerta desde o primeiro minuto que li sobre o projecto.
O Nuno Gonçalves nos arranjos e a Sónia Tavares (The Gift) juntaram-se ao Fernando Ribeiro (Moonspell) e ao Paulo Praça (Plaza e mil e um projectos) para dar uma roupagem diferente aos fados cantados pela inimitável diva.
Deixo-vos o manifesto do mentor do projecto e aconselho-vos vivamente a experimentar. Já dizia Pessoa: "Primeiro estranha-se, depois entranha-se".


«Havia um objectivo... Ao início fomos de alguma forma intimidados pelo peso do Fado. As canções que Amália cantou. Era fado. Ela simbolizava o Fado. Mas Hoje, ao olhar atrás, ouvindo os discos, analisando tudo o que a Amália fez “conseguimos” perceber que Amália era muito mais que Fado. Era muito mais que um estilo pontuado e apoiado por duas guitarras e um vestido negro. Amália... O que era para mim Amália... Amália foi a primeira e talvez única artista Pop que Portugal teve. Porque ser Pop é não ter fronteiras. Ser Pop é respirar aquilo que se canta. Hoje consegui perceber que as canções eram obras históricas de cultura pop. Cultura Pop. Amália era a capa dura que cantava. Amália era a voz. Mas atrás das letras, do tom triste e melancólico havia melodias, harmonias que queriam mais espaço que umas tristes duas guitarras. As canções que Amália cantava tinham cor. O resto era estética. Na sua essência Amália era Pop. E foi assim que decidimos criar os Hoje.
Mais que Fado. Muito mais que Fado. Hoje é um País novo. Hoje é dizer ao mundo que Amália era Pop. Se ninguém ainda tinha pensado nisto... Ao escutar as canções que escreveram para Amália desde logo imaginei texturas pop. Um elogio à canção cantada em Português. Hoje é um marco. Poderá fazer história mas na sua essência as canções sempre estiveram aqui. Hoje é um olhar adulto sobre aquilo que de melhor Amália tinha, cor.
Sei de cor as canções. Elas, as canções, Hoje são vida, esperança e a eterna saudade que hoje se escreve de todas as cores. Se Portugal é só Fado então o Pop é a preto e branco. Hoje Portugal tem vozes que conseguem dizer que Amália era mais que fado.
Amália Hoje é um disco. Reúne três vozes distintas. Fernando Ribeiro dos Moonspell, Paulo Praça de mil e um projectos e Sónia Tavares dos The Gift. São produzidos, idealizados e arranjados por mim que antes de ser dos The Gift sempre fui Português.
Amália Hoje é um disco que sairá em breve. Canções que vivem para alem dos vestidos pretos e das guitarras Portuguesas. Hoje é um grito. Hoje é um dizer basta. Amália é muito mais que fado. Amália é pop e este disco será a prova que Fado é redutor para a voz que brindou o mundo e ainda mais redutor para os compositores que imaginaram as melhores canções pop de sempre da história da música portuguesa. Hoje é um veiculo pop sem fronteiras nem barreiras, sem concepções nem travões. Hoje é aquilo que quisemos que Amália hoje fosse.
Hoje somos todos aqueles que acham que Portugal é muito mais que aquilo que se mostra. Hoje é história. Hoje somos todos nós».
Nuno Gonçalves, mentor do projecto “Hoje”

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