Não é a primera vez que se fala neste blogue do realizador Manoel de Oliveira (Porto, 1908) e agora o motivo é a recente publicação no Brasil dum livro que estuda a sua obra fílmica. A coerência do conjunto é conseguida pela organizadora (a professora Renata Soares Junqueira, da UNESP) ao criar cinco grandes apartados que clarificam a leitura: "Uma Poética para o Cinema", "Os Amores Frustrados", "Portugal e o Projeto Expansionista" "A Dialética do Bem e do Mal" e "Em Busca do Tempo Perdido". Ao todo são dezoito artigos, além da filmografia e da apresentação inicial, com cerca de trezentas páginas.
É, portanto, um livro para aqueles que procuram aprofundar na filmografia de Manoel de Oliveira e que, simultaneamente, celebram a força de um homem que começou a realização de filmes (longas, médias e curtas-metragens, documentários e outras peças) em 1931 com a curta-metragem Douro, Faina Fluvial e que ainda hoje continua a sua labor artística.
Ficha do livro: Renata Soares Junqueira (organizadora), Manoel de Oliveira: Uma Presença. Estudos de Literatura e Cinema. São Paulo, Editorial Perspectiva, 2010.
O documentário Ainda há pastores? que temos na biblioteca para nós requisitarmos, é magnífico.
Se gostarem de descontrair e desfrutar da natureza, e de outros aspectos da vida, diferentes aos que estamos costumados a viver no nosso dia-a-dia, vejam. Vale a pena!
O filme de Jorge Pelicano desenvolve-se no Vale da Serra da Estrela (Casais de Folgosinho, Portugal), e percorre o Vale à procura das histórias reais e simples das pessoas que ainda moram nele. Um dos protagonistas é o pastor Hermínio, cuja vida é caminhar pela montanha com as ovelhas, ao som das cassetes de Quim Barreiros. Vamos conhecer também duas crianças, uma mulher velha, um casal... que resistem no Vale apesar das dificuldades e a dureza que implica morar lá.
Não há palavras que possam descrever o que transmitem os rostos, reparem na rapariga quando está a falar das tarefas que desempenha num dia normal, ou na fotografia da mulher velha na sua casa. É arte e vida misturados, e afinal uma obra para os nossos sentidos quando achas que é mais uma história levada ao cinema, oferece-te um salto no tempo, um seguimento para nós comprovarmos como têm evoluído as histórias, e que é o que tem acontecido no vale quatro anos depois. Evidentemente não vou contar...
O silêncio, a natureza, a simplicidade, sem luz eléctrica, sem água canalizada, as montanhas, o gado... são para não perderem.
Digamos que é um filme bem cuidado, cuja fotografia é espectacular, as histórias muito bem contadas com a simplicidade das próprias vidas, e acho muito bem merecidos os vários galardões que possui.
O programa do Womad Cáceres é, mais uma vez, muito interessante, bué de fixe. Infelizmente, não há artistas portugueses, mas três deles vêm de países lusófonos. São estes:
6 de Maio (11:00 h.), Flora Gomes (Guiné) apresenta na Filmoteca de Extremadura o filme Mortu Nega.
6 de Maio (23:15 h.), Marcelo D2 (Brasil), na Praça Maior.
7 de Maio (17:00 h.), Waldemar Bastos (Angola), na Praça de São Jorge (atelier).
7 de Maio (20:15 h.), Waldemar Bastos (Angola), na Praça de São Jorge.
Acabamos os textos sobre este filme com dois comentários de alunos de 1º de Nível Avançado (Luis e María Dolores):
O filme Pigeon: Impossible é um conto de animação. O argumento do filme é simples: um agente secreto da Central de Inteligência Americana (CIA) com pouca, aparentemente, experiência recebe uma mala de um colega. Esta mala contém as indicações e os códigos de acesso para activar a guerra nuclear.
A acção tem lugar numa rua de Washington D.C. Infelizmente uma pomba cai lá dentro da mala. Como consequência surgem danos, estragos e problemas, não só sobre o próprio agente, senão sobre os próprios pedestres também. Tudo é confusão na rua. Seja como for, as coisas pioram. O maior problema acontece logo que um donut cai dentro da mala e espanca o botão de lançamento do míssil nuclear. Mal tocou o botão, já está a surgir o míssil escondido no Obelisco da cidade e que se dirige ao seu objectivo. Neste momento começa uma luta a fim de que o míssil expluda no ar e não consiga o seu objectivo.
O agente não quer matar a pomba; no entanto, a pomba morre quando o míssil cai em cima dela.
Os desenhos deste conto animado são originais, estão tão bem conseguidos que parecem ter a sua própria vida. é muito interessante, tanto o modo em que a pomba desafia ao agente como o modo em que o agente a trata para não resultar ferida. Apesar disso, o final do filme coloca mais ênfase na morte da pomba que na destruição do míssil.
O ritmo do argumento é muito rápido. Aliás, o filme dura por volta de seis minutos. A música ao longo do filme tem uma grande importância. Está em concordância como o argumento e o tipo de filme.
Este filme não parece uma crítica a nenhuma instituição conhecida.
Olá, meu querido amigo Nuno!
Envio-te esta mensagem para te contar um filme de animação que vi na quinta na Escola de Línguas.
A história se passa na capital dos EUA, Washington, onde um agente secreto recebe uma mala de um outro agente para cumprir uma missão impossível; com a mala o agente pode atacar um país inimigo ou se defender dele.
Mas isso será uma tarefa muito difícil por causa de um pombo esperto, que é capaz de fazer qualquer coisa para apanhar um donut de chocolate que leva o agente. Este, quando vê o pombo pensa que se lhe oferecer umas migalhas, o pombo ir-se-á embora, mas o pombo não deixa de olhar para o donut, porque quer comê-lo tudo.
De qualquer maneira, o pombo não deixará de tentar roubar o donut, até que de repente no intuito de o apanhar, o pombo cai dentro da mala, e como a mala é um computador que está cheio de botões, o pombo começa a mexer neles com o seu bico, e é então quando uma batalha começa na cidade.
De dentro da mala começam a sair mísseis que disparam sobre as casas, destroem carros, prédios, as pessoas correm de um lado para o outro sem saber o que é que acontece realmente.
O agente tem então que oferecer ao pombo o donut para ele recuperar assim a mala. Porém, quando a mala finalmente é aberta e o pombo sai dela, infelizmente o donut cai dentro da mala e carrega no botão vermelho, meu Deus!
Nesse instante, do Obelisco da cidade sai um míssil enorme em direcção a Moscovo para atacar o país inimigo. O agente deve ser rápido e destruir o míssil. Mas, como fazê-lo? Ele pega na mala, porque além de lançar mísseis, faz de avião e pode voar. Quando finalmente o agente chega até ao míssil,d e novo aparece o pombo para procurar o donut. O agente tem de fazer uma última coisa: abrir a mala para deixar cair o donut e que o pombo saia atrás dele.
Finalmente, o míssil é destruído e uma das partes dele cai infelizmente em cima do pombo.
Comentários realizados por dois alunos de 2º de Nível Avançado (Inês Maria e Roberto):
Pigeon: Impossible é uma curta-metragem muito curiosa, e não só curiosa, mas também entretida, já que em apeas seis minutos oferece uma história que, sem dúvida nenhuma, dá para falar.
Um agente secreto e uma pomba são os protagonistas. De manhã, o agente está a comer um donut sentado num banco na rua, e perto dele uma pomba está a olhar para o doce. Por acaso, a pomba num salto fica aprisionada na pasta do agente, e é nesta altura da história que começa a acção. A mala não é uma mala vulgar, mas um computador que pode voar, disparar e até lançar um foguete espacial dos EUA, que está oculto no obelisco de Washington. O agente consegue explodir o foguete no ar e vitar o pior.
Além da argumentação temos de considerar que esta curta-metragem nos serve para reflectir, já que a priori ninguém pode imaginar que factos tão quotidianos, nos quais às vezes nem sequer reparamos, possam implicar um risco tão alto e um perigo tão sério numa cidade normal. Faz-me pensar na fragilidade que existe ao nosso redor.
No que respeita ao trabalho de Lucas Martel, considero que é óptimo, quer seja pelos desenhos, que são magníficos, quer pela originalidade do conteúdo. A verdade é que o resultado é admirável, sem esquecermos da música, que na minha opinião é adequada para manter a emoção.
Dizer que Martel contou para o projecto com uma equipa de quase cem pessoas, o que julgo tem muito a ver com a qualidade deste trabalho, pois é evidente que não foi feito de qualquer maneira. E acrescentemos que em apenas um mês foi visto na Net por mais de dois milhões de pessoas, podendo considerar, portanto, que tem sido um verdadeiro sucesso.
Como última reflexão acerca do autêntico significado que julgo quer transmitir, apontaremos que se trata de uma crítica que nos faz pensar na "Guerra Fria" dos anos cinquenta (felizmente acabou em 1989). Uma crítica, na minha opinião, forte e actual, pois apresenta um jogo perigoso entre uma arma muito sofisticada e o próprio símbolo da paz. Mistura elementos de forma solapada e inteligente com o poder, a violência, o medo, as armas, a sorte, a calma, a paz, os quais, ao fim penduram dum fio muito fino que teríamos de vigiar. Talvez não reparemos na sua importância, mas a tranquilidade às vezes é só aparência e uma enganosa ilusão. A ousadia da pomba (paz) ter jogado com a pasta (guerra) custou-lhe a própria vida. Temos de manter os olhos muito abertos e valorizar no sentido mais amplo a palavra paz no nosso dia-a-dia.
Aparece na cena um homem, Walter Beckett, com um fato preto e que está a caminhar muito depressa, a cruzar a estrada entre os carros que estão lá a passar. Finalmente, cruza a estrada sem ter sido atropelado por viatura nenhuma e chega ao outro lado da rua. Ali, um homem entrega-lhe uma mala muito suspeitosa, e vai-se embora.
Walter põe a mala num banco da rua e tira um doce para o comer; nessa altura chega uma pomba e Walter com muita amabilidade dá-lhé um pedaço do doce, mas a pomba não quer um bocado, quer o doce todo: Então, a pomba ataca-o e Walter bate-a com a mão e o animal vai cair, com muito azar, na mala de Walter, a qual se fecha com a pombra dentro.
O facto de a pomba cair na mala, inquieta o homem porque ele sabe o que há ali, já que não é uma mala normal, pois a mesma contém, entre outras muitas coisas, um botão vermelho para detonar um míssil. Nisto, a pomba começa a espicaçar os botões todos e a mala começa a voar e a disparar raios laser de cor-de-rosa à toa, até que Walter consegue detê-la e tirar a ave fora da mala. Por causa de eles lutarem, o bolo foi parar ao botão vermelho e o projéctil disparou-se a caminho de Moscovo. Com o fim de evitar outra "Guerra Fria", Walter apanha a mala e sai voando atrás do projéctil.
No entanto, quando ele vai tentar deter o míssil, o pássaro interpõe-se no seu caminho, ainda à procura do bolo; então, ele atira o bolo ao ar e a pomba vai depressa apanhá-lo.
Contudo, a missão do Walter era deter o projéctil; para isso ele, com a ajuda da sua mala, conseguiu lançar um grande disparo e desse modo explodir o míssil. Uma vez conseguido deter o míssil, Walter foi descido pela mala do mesmo modo como foi subido anteriormente e aterrou na rua como se nada tivesse acontecido.
Foi a pomba quem teve azar nesta história: por causa de o projéctil explodir, ela morreu esmagada pelos restos do aparelho.
O Princípio da Incerteza é um filme realizado por Manoel de Oliveira. Está baseado no romance O Princípio da Incerteza - Jóia de família, de Agustina Bessa-Luís.
Acho que é um filme realizado com muita sabedoria. Parece uma crítica da cultura portuguesa e, em consequência, à vida europeia e às relações humanas; a vida que só busca o prazer e a comodidade, afastada de uma felicidade fruto do amor verdadeiro. Quando acabei de vê-lo fiquei um tanto ou quanto desconcertado. Não compreendi muito bem o argumento e tive que vê-lo uma segunda vez porque o argumento é complexo: António e José são dois amigos que partilham tudo desde a sua infância. Eles vivem numa aldeia perto do Porto. António é um rapaz rico e de boa família. Pelo contrário, José é filho de Celsa, a governanta da casa de António. Quando são adultos, António casa-se com Camila. Ela casa-se com António somente para melhorar a má situação económica da família. Porém, por quem sempre estivera ela apaixonada era José. Além disso, António tem Vanessa como amante, que é parceira de José em um negócio nada claro e é uma mulher de maus costumes, segundo os cânones sociais. Vanessa forma parte da vida de António até o corromper. As coisas terminam mal para as vidas de António, Camila, José e Vanessa. António morre entre as chamas numa discoteca. José termina em prisão. Vanessa vai para Espanha e Camila é investigada pela polícia.
Este filme pertence ao género do drama. É chamativo a ambientação da cultura portuguesa. De entre os principais elementos costumbristas podem-se destacar os ritos de casamento e funerais, as reuniões gastronómicas ou as diferentes salas de reunião nas casas das personagens. No filme joga um papel alegórico tanto o rio Douro quanto o comboio como símbolos de uma vida que se vai.
No plano da técnica chama a atenção o abundante número de planos fixos. A música pausada ao longo do filme tem uma grande importância. Mostra a angustia existencial das personagens e da sociedade. Está em concordância com o ritmo lento do filme.
Em conclusão, este filme mostra como as pessoas não sabemos nada e estamos confusos. A vida é um mistério e nela há incerteza, onde nada é o que parece.
Há música: Rodrigo Leão, Nua Trio, Cristina Branco e María Berasarte e para concluir, Deolinda. Há teatro e dança: Jaula, de Ana Cristina Câmara, De mim não posso fugir, paciência, pela companhia de Tânia Carvalho. Há cinema na Filmoteca Española: Todo esto es Fado,Movimientos Perpetuos, Singularidades de una chica rubia, El Arquitecto y la Ciudad, El Juicio, African Parade, La Zona, Ruinas, Piel e Gloria. E literatura, arte, moda e mais. A programação completa está neste blogue.
A menina da rádio é um filme 1944, realizado por Arthur Duarte, que tem como protagonistas António Silva e Maria Matos. Ao actor o filme valeu-lhe o prémio da SNI (Secretariado Nacional de Informação) para esse ano.
Conta-nos a história de Cipriano Lopes e Rosa Gonçalves, lojistas na mesma rua, que se detestam comercialmente. No entanto, os respectivos filhos, Geninha e Óscar, amam-se apaixonadamente e ambos gostam de música - tendência partilhada por Cipriano e odiada por Rosa. Para raiva de Rosa, Cipriano lança mãos na criação dum Rádio Clube da Estrela, onde Geninha provaria os seus dotes musicais, graças ao talento, como compositor, de Óscar. Mas as coisas complicam-se entre ciúmes, raivas e invejas, para o que contribui a entrada em cena do cantor Fernando Verdial e de Teresa Waldemar, vedeta da Emissora.
Não há rapariga portuguesa daqueles tempos e de hoje, que não saia deste filme perdidamente pelo nosso galã eterno - Francisco Curado Ribeiro.
Não pensem que perdi a cabeça e decidi falar dos prémios americanos prévios aos Óscares meses depois de terem sido atribuídos, não. Em Portugal também temos os nossos próprios Globos de Ouro.
Ok, admito que não foram originais na escolha dos nomes dos prémios, mas é um evento anual que premeia talento e esforço no mundo artístico e desportivo português, e num país em que (normalmente) apenas se valorizam as pessoas depois de desaparecerem, é bom ter eventos como estes, principalmente tendo em conta que é o público que atribui os prémios.
Deixo-vos com a lista de nomeados - eu tenho obviamente os meus favoritos - como sugestões de procura e descoberta daquilo que se vai fazendo por Portugal. Se quiserem votar, estejam à vontade, a gala terá lugar no próximo dia 17 de Maio e é retransmitida pela SIC.
NOMEADOS
Cinema
Melhor Filme:
- Amália de Carlos Coelho da Silva
- Aquele querido mês de Agosto de Miguel Gomes
- Entre os dedos de Tiago Guedes e Frederico Serra
- Mal nascida de João Canijo
Melhor Actriz:
- Anabela Moreira em Mal nascida
- Catarina Wallenstein em Lobos
- Isabel Abreu em Entre os dedos
- Sandra Barata Belo em Amália
Melhor Actor:
- Filipe Duarte em Entre os dedos
- Gonçalo Waddington em Mal nascida
- Ivo Canelas em Arte de Roubar
- Nuno Lopes em Goodnight Irene
Teatro
Melhor Actriz:
- Beatriz Batarda em Rock'n'Roll
- Manuela Maria em Boa noite, Mãe
- Maria José Paschoal em Vieira da Silva par Elle même
- Rita Durão em Don Carlos, Infante de Espanha
Melhor Actor:
- Henrique Feist em Cabaret
- João Grosso em A Noite Árabe
- José Raposo em Um violino no telhado
- Romeu Costa em Mona Lisa Show
Melhor Espectáculo:
- A Floresta (Encenação de Luís Miguel Cintra)
- Cândido ou o Optimismo (Encenação de Cristina Carvalhal)
- Saga-Ópera Extravagante (Encenação de João Brites)
- West Side Story (Encenação de Filipe La Féria)
Música
Melhor Intérprete Individual:
- Camané (com Sempre em mim)
- Mariza (com Terra)
- Rui Reininho (com Companhia das Índias)
- Tony Carreira (com Best of 20 anos de Canções e O Homem que sou)
De Fernando Lopes (Crónica dos bons malandros, O Delfim, Belarmino, 98 octanas), este filme relata-nos a realidade que se passa lá fora - do condomínio, da televisão, da vida privada - e como esta realidade apenas é apreendida através de reflexos, de representações - câmaras de tv e de vigilância, imagens reproduzidas nos elementos reais.
O realizador conta-nos uma história contemporânea, reflectindo sobre temas intemporais, e contribuindo conscientemente para a nossa ideia de par ficcional: Alexandra Lencastre e Rogério Samora, são a Katherine Hepburn e o Spencer Tracy (ou a Lauren Bacall e o Humphrey Bogart) da ficção lusa, ainda que ao contrário dos pares americanos o(s) romance(s) que vivem esteja sempre confinado a um ecrã ou palco.
Cidália tem 36 anos, é portuguesa, e vive com a família, marido, irmã e dois filhos, num bairro dos arredores de Paris. A sua vida resume-se a trabalhar muito, para juntar dinheiro, numa comunidade fechada sobre si própria e que não gosta de dar nas vistas. Mas uma noite o seu filho mais velho é morto pela polícia, e a sua vida irá mudar para sempre. Porque não quer aceitar as explicações oficiais, a passividade e a vergonha da sua comunidade, e o sem sentido que descobre na sua vida. Esta é a história de uma personagem que a vida fará maior que a vida, ao descobrir na tragédia que a trespassa, e na morte que se instala na sua própria família, que o que tem a ganhar é precisamente uma nova vida. Situada nos arredores de Paris, entre a comunidade portuguesa emigrada em França, esta é a história de Cidália, uma mulher de trinta e poucos anos, que como muitas outras não vive senão para o trabalho, para a família e para juntar dinheiro para um dia voltar a Portugal. Mas numa madrugada do frio Inverno parisiense, em que tudo parecia correr como habitualmente, a polícia mata o seu filho mais velho, e a partir desse trágico incidente toda a sua vida irá ser posta em causa. Porque Cidália não se quer resignar com as explicações oficiais, e com a passividade da comunidade portuguesa e a da sua própria família. E porque, revoltando-se contra tudo e contra todos, e não tendo já nada a perder, Cidália vai afinal acabar por descobrir uma outra vida. E ganhar, verdadeiramente, a vida.
Lisboa, ano de 1989: Um certo indivíduo de meia-idade, um pobre diabo, vive no quarto de uma pensão barata na zona velha e ribeirinha da cidade. Doente, e por vicissitudes várias, o idiota alimenta-se de Schubert e de uma vaga cinéfila que cultiva como forma de resistência à miséria. É posto no olho da rua, depois de frustrada tentativa contra o pudor da filha da dona da pensão. Privado de quaisquer recursos, sozinho, vê-se confrontado com a dureza da vida urbana. É internado num hospício, de onde sairá sensatamente como homem livre, empenhando-se na missão "rica e estranha" que lhe é sugerida por um velho amigo, doente mental também: Vai, e dá-lhes trabalho!»
Recordações da Casa Amarela (1989) é um filme português de João César Monteiro, a primeira obra da trilogia em que o autor interpreta o seu alter-ego na figura de João de Deus. Parece consensual ser este o seu filme mais equilibrado e bem conseguido. Foi premiado com o Leão de Prata no Festival de Veneza de 1989. Estreia em Lisboa no cinema do Fórum Picoas a 12 de Outubro de 1998.
Portugal, 1917. Em Fátima, diz-se que a virgem apareceu a três pastorinhos. Salomé, uma jovem de um bordel de Lisboa, é levada por um senhor de posses para viver com ele. Salomé é apresentada à alta sociedade lisboeta, mas o seu passado não a deixa de perseguir.
Parabéns, mestre! Manoel de Oliveira nasceu há cem anos no Porto (embora os documentos oficiais digam que nasceu a 12 de Dezembro). Apesar da idade, continua a trabalhar e a acrescentar a sua incrível biografia: desportista, actor no filme A Canção de Lisboa, empresário e realizador cinematográfico de complicado percurso, pois a primeira longa-metragem, Aniki-Bóbó, foi rodada em 1942 e a seguinte, O Acto da Primavera, é de 1963. Realizador que dá especial relevo à palavra, levou ao cinema obras de Castelo Branco, José Régio ou Agustina Bessa-Luís, embora às vezes tivesse a incompreensão do público.
Para quem quiser conhecer mais da sua fascinante obra, deixamos aqui estas referências bibliográficas: - Fundação Serralves: Manoel de Oliveira. Catálogo da exposição, Porto, 2008. - Cinemateca Portuguesa: Manoel de Oliveira. Cem anos, Lisboa, 2008. - Randal Johnson: Manoel de Oliveira, University of Illinois Press, Chicago, 2007. - Folgar de la C.: Manoel de Oliveira, Santiago de Compostela, Universidade, 2004. - Júlia Buisel: Manoel de Oliveira. Fotobiografia, Porto, Figueirinhas, 2003. - De Baecque e Parsi: Conversas com Manoel de Oliveira, Porto, Campo das L., 1999. - Camões. Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 12-13: Lisboa, IC, 2001.
Agora é só esperar a estreia daquele que será o seu próximo filme, Singularidades de uma Rapariga Loira, adaptação do conto de Eça de Queirós. A não perder!
Não é preciso terem ouvido falar de Orfeu e a sua Eurídice para disfrutarem deste filme, mas se já conheciam o mito, o filme adquire outros significados.
Trata-se de uma reinterpretação livre da história, Ovídio ia ficar admirado con este semideus Orfeu que além de dançar samba e tocar violão, é preto. Cá estão quase todos os elementos da tragédia original, os dois protagonistas, as ménades e a Morte, vestidos con as fantasias correspondentes; o Mensageiro, o deus sol, Caronte, o cão Cérbero, a Esperança... aos senhores corresponde identificá-los.
E há muito mais, está a música maravilhosa de Vinícius, o carnaval de Rio como cenário, as danças desenfreadas das multidões, e mesmo rituais de vudu.
Nomes de grande vulto da cultura portuguesa invadem, felizmente, as ruas de várias cidades espanholas. Músicos como Júlio Pereira ou Mísia, artistas plásticos como Helena Almeida, poetas como Gastão Cruz, filmes (curtas e longa-metragens) ou uma homenagem a Manoel de Oliveira, são alguns exemplos do que poderemos encontrar entre hoje, 27 de Outubro, e o dia 1 de Dezembro.
Em Mérida, e no Palácio de Congressos, poderemos assistir à exposição "21 proyectos del siglo 21. Reflejos de la arquitectura portuguesa en la década actual" (de 9 a 25 de Outubro). A não perder.