sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Nenhum Olhar, de José Luís Peixoto

 
"PENSO: TALVEZ O SOFRIMENTO SEJA LANÇADO às multidões em punhados e talvez o grosso caia em cima de uns e pouco ou nada em cima de outros." (p. 25)

"OS HOMENS SÃO UMA PEQUENA PARTE DO MUNDO, e eu não compreendo os homens. Sei o que fazem e as razões imediatas do que fazem, mas saber isso é saber o que está à vista, é não saber nada. Penso: talvez os homens sejam pedaços de caos sobre a desordem que encerram, e talvez seja isso que os explique.
Havia um sol dentro de um sol dentro de um sol no meu olhar,..." (p. 67)

José Luís Peixoto (Galveias, Ponte de Sor, Portalegre, 1974) é uma das mais importantes vozes no panorama literário português contemporâneo (de facto existe um prémio de poesia com o seu nome). Se gostaram do conto "O dia dos anos", inserido na Antologia do Conto Português (leitura do mês em Julho), sem dúvida vão gostar de ler mais um bocadinho deste autor. A escolha de leitura para este mês de Agosto é o seu romance Nenhum Olhar, livro que recebeu o Prémio José Saramago em 2001. "Um romance de homens e mulheres da terra, de anjos e de demónios do céu" segundo as palavras do próprio romancista. Nele, traça com mestria a realidade, os medos e as emoções das vidas rurais alentejanas através das suas personagens. Digamos que é fácil enquanto lemos um texto de Peixoto recriarmos na nossa mente lugares, cheiros, luzes, rostos, pelo seu domínio da linguagem, já que nos situa como leitores num cenário quase real e cheio de vida, onde às vezes acontece que o leitor se vê envolvido até tal ponto nas histórias que percebe as sensações das personagens como próprias.
Eduardo Prado Coelho disse de Peixoto que "bastam duas linhas, e entramos num continente novo, num lugar inédito do espaço literário". E José Mário Silva diz dele que o que "torna extraordinário é a sua capacidade de avançar por esta nebulosa de sentimentos e de angústias, evitando sempre cair em qualquer tipo de retórica emocional:"
Sublinharemos que a leitura não é fácil devido à mudança dos limites espácio-temporais, à mistura do imaginativo e do real, assim como às personagens que mudam sem prévio aviso. O fluxo de consciência que às vezes faz a leitura um bocado complicada para quem não estiver muito habituado à leitura, mas em Peixoto resulta mais leve pela sua prosa poética cheia de beleza.
Recomendo-vos Nenhum Olhar. Vale a pena deleitarmos com a leitura deste romance nas férias, pois é viver mais de uma vida, é viver mais de uma história, é um autêntico prazer. E acreditem que estamos a falar de uma literatura diferente.

Boa leitura para todos!

Inês Maria (2º de Nível Avançado)

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